sábado, 22 de janeiro de 2011

Casulo




Ando afastada dos meus. Tranquei-me ontem a noite, numa casca frágil, mas aparentemente resistente.
Tranquei-me sozinha, porque não quis que ninguém viesse conversar. Não quero conversar.
Não leio mais os Anúncios dos jornais, nem vejo os programas de música.
Tranquei a porta, e deixei a chave em cima da mesinha do computador.
Está lá, pra quando eu quiser sair.
Impressiono-me corriqueiramente com meu sarcasmo e com a minha vontade de rir.
Impressiono-me mais ainda por não fazê-lo espontâneamente.
Só sei que daqui da cama, eu vejo o balanço das silhuetas.
Daqui da cama vejo o brilho dos olhares perdidos de alegria.
E sinto-me tão bem, por participar desta dança.
Apeguei-me a estas coisas.
Alguém bate a porta do quarto.
Mas não vou abrir, olho lá em cima a minha chave. Mas não quero abrir.
Apeguei-me a um bom livro, a olhar o telhado, a desarrumar as roupas.
Apeguei-me aos perfumes.
Insistem em atrapalhar minha calma, batem e o barulho das batidas na porta me irrita.
Na verdade só querem conversar. Já disse que não quero.
Apeguei-me a falar sozinha, a um bom chá, a escrever poesias.
Apeguei-me a mim, desse jeito que sou.
Gostaria de pedir para que parassem de bater a minha porta.
O barulho me impede de ouvir a música da tardinha,
A musica da Ave-Maria e as crianças pedindo bençãos.
É meu tempo, eu uso assim.
Depois se quiser sou livre e vôo.


Tainná Vieira